quarta-feira, 19 de abril de 2017

CABEÇA - Prefácio

José Simplício da Silva perdeu a cabeça. Mas a pergunta que não quer calar é... você, meu caro leitor ou leitora... sabe onde está sua cabeça? Se realmente souber, parabéns! Se não souber, creia, você não está só. Nossa cabeça, enquanto humanos, sempre foi disputada à tapas por aqueles que se arrogam seus “donos”, pois é... donos. Sua cabeça tem dono? Este realmente é você? Bem, esta é uma boa pergunta, não? José Simplício da Silva perdeu a cabeça. Será que alguma vez não é preciso perder a cabeça para realmente encontrá-la? Está aí uma pergunta filosófica mais profunda. Neste livro o herói, ou anti-herói, como lhe seria mais adequado, ao descobrir que sua cabeça não mais lhe pertence, parte para uma cruzada solitária e violenta no intuito de recuperá-la, afinal, ‘essa’ cabeça tem dono! Porém, descobrirá que ela passará de mão em mão de acordo com os interesses que se fizerem necessários aos manipuladores da cabeça. O homem não irá desistir da luta para apossar-se do que é seu. Mas... é seu por direito? Bem, a justiça de todos é algo que terá de deixar de lado para criar a uma própria, perigosa, autônoma, sanguínea, pulsante, viva, e assassina... José Simplício da Silva perdeu a cabeça.  Os valores de todos já não são mais os seus, ao tomarem sua cabeça morta como refém de idéias morais alheias, deixaram a viva ardendo em fogo! Livre! Totalmente livre para agir! Longe dos laços que poderiam frear seus instintos. É sempre um perigo sufocar a vida, a vítima se debate e usará de todos os meios para livrar-se da morte iminente. Pois é... cada um reage ao sufocamento com as armas que possui, ou não reage, enfim. José Simplício da Silva perdeu a cabeça. Reagiu. Passou a ser considerado o inimigo público número um, passou a ser considerado o diabo! Alguém a ser eliminado, pois estava vivo, e o que dele interessava era a cabeça morta, a cabeça refém. A outra, a viva, a livre, a que reivindica, não!
Enfim, espero que seja bem entendido o que exponho neste livro. Os condimentos kafkianos são propositais e espero tê-los usado na dose certa. Na verdade tudo é uma questão de perspectiva – dá-lhe Nietzsche! – e conforme de onde enxergamos o mundo, ele assume colorações estranhas e surrealistas. Se soubermos rir, ele – o mundo – certamente não se furtará em aninhar-se como um bom garoto no conforto da palma de nossa mão. E quando isso acontece talvez só nesse momento podemos dizer que nossa cabeça está no lugar. Mas enfim, mesmo uma idéia desta é só uma idéia, nada mais. Melhor mesmo é dizer o óbvio, que só os loucos sabem onde têm a cabeça! Sejamos loucos então! Pois quase nos fizeram crer que a individualidade é loucura! Tiremos a atiremos nossas máscaras para cima num maravilhoso acesso de loucura! quem sabe quantas cabeças encontrarão seus verdadeiros donos nesse momento! E nada pode ser mais poderoso do que uma cabeça com seu dono, seu legítimo dono... bem... pensando bem, também é poderoso aquele que é portador de afiadas e perigosas – quem sabe demoníacas - espadas, aquele que vai em busca do que é seu... Duvidam? pois  vejam com atenção José Simplício... o José Simplício da Silva, que perdeu a cabeça...






                                                                                                       Roberto Axe


                                                                                            Porto Alegre, 6 de julho de 2010.

Nenhum comentário: