quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O DIA EM QUE O MEU SUBCONSCIENTE OUVIU POUCAS E BOAS!

Percebi logo que era um sonho e me deixei levar de imediato pela beleza do local. Eu caminhava por uma rua ensolarada e movimentada em que prédios antigos ostentavam uma arquitetura de beleza antiga e sem igual; tudo era sereno no sonho, apesar do movimento da rua. Saint Germain des-Prés! Comemorei; sim, estou em Paris! Quem sabe na próxima esquina encontro o lendário Les Deux Magots? Ou mais, em se tratando de um sonho, quem sabe não encontro Henry Miller vagando durango e sonhador, e enchemos a cara em algum bar! Ora, quem sabe na próxima esquina não esteja uma rua encravada nos anos quarenta? ou trinta? Os existencialistas! Mme du Beauvoir, Sartre, Camus! O fantástico Artaud, mais louco do que nunca! Quem sabe Breton! Os surrealistas, os dadaístas! Ou ainda Hemingway bêbado, ao mirar o nada sentado à beira de uma calçada! Afinal, festejei, sonho é sonho não é mesmo? Prossegui caminhando lentamente, inebriado por esses pensamentos quando aos poucos fui percebendo que alguém me seguia cantando. Prestei atenção na música:

Voar voar, subir subir, ir por onde for
Descer até o Sol cair, ou mudar de cor
Anjos de cais, azas de ilusão
E um sonho audaz feito um balão...


Virei-me e dei de cara com o cantor Biafra! O cara me seguia cantando, e me olhava com doçura como se dedicasse sua cantiga só para mim! Continuei andando, tentando não dar bola para aquilo, mas o cantor não me largava....

Luar, luar eu sou assim brilho do farol
Além do mais amar até o fim simplesmente sol
Rock do bom ou quem sabe jazz
Som sobre som bem mais bem mais...


Pronto! Agora eu andava por Paris com Biafra cantando atrás de mim! ‘Belo sonho!’ Mas, para minha sorte encontrei uma cabine telefônica, entrei correndo e fechei a porta. Biafra parou também e ficou cantando do lado de fora, sem tirar seus olhos de mim. Peguei o telefone, indignado, e liguei sem demora para meu subconsciente. O cara atendeu do outro lado:

- Alô.

- Vem cá, meu! Que palhaçada é essa? – esbravejai.


- Tô entendendo não, meu irmão....

- Botar o Biafra cantando atrás de mim enquanto ando por Paris! De onde tirou essa idéia!


- Ah, sim, não me leve a mal... mas é que você achou graça daquele comercial do carro lembra? Que o ladrão não agüenta o Biafra no banco de trás e foge deixando o carro abandonado na rua. Achei que você iria gostar, pô! Que cara difícil de agradar esse!

- Você tá de gozação comigo, eu te conheço...


- Quem me conhece é o papai Freud, mais ninguém! Tá se achando, é? Olhe, não brinque comigo, você não me conhece... aliás, faz horas que você não lê Freud, e não preciso lhe dizer que adoro dormir escutando os textos de papai.

- Cara, não tenho tempo para conversa fiada, tire o Biafra do meu sonho, agora! – ordenei com raiva.


- Ei,ei,ei calma aí! Pensa que você é quem manda? Tá enganado, mano! Ou já esqueceu daquela broxada com a morena fantástica aquela? Pois é, você havia me irritado uns dias antes, então fui obrigado a mandar um ‘recadinho’ aí pra cima, hehehe....

- Olhe, olhe, - procurei me acalmar, pois realmente o danado tinha lá seus poderes – não estou lhe pedindo muito... Paris. OK. Gostei, mas porra! Biafra, irmão!


- Já lhe expliquei... o comercial aquele... achei que ia gostar...

- Mas não gostei! Certo?


- Olha, você está me deixando irritado, e se eu me irritar... sabe como é... transformo tudo isso aí num pesadelo horroroso, não mexa comigo!

- Ah, você quer me desafiar, é isso? Pois saiba que não tenho medo de você!


- Ah não? Sou seu subconsciente esqueceu? Não brinque comigo rapaz! Você não sabe do que sou capaz!

- Vai fazer o quê, imbecil? O que pode ser pior do que o Biafra me seguindo por Paris? Vá pro inferno! – desliguei o telefone irritado e saí da cabine, que para minha surpresa estava no palco do programa da Hebe! e a própria me aguardava! A apresentadora apertou minhas bochechas, para delírio do auditório lotado!


- Coisa mais linda de se ‘viver’! – disse a Hebe – diz aí, meu auditório, ele não fica mais bonito assim brabinho? – o auditório então entrou em delírio, num frenesi dos diabos! – Brabinho! Brabinho! – repetiam batendo palmas. Retornei para a cabine furioso, fechei a porta e liguei pro filho da puta! Mas a partir daqui não posso prosseguir meu relato, pois as palavras que se seguiram são impublicáveis.