quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

DOSADOR

Bebendo só
em um bar chalaça
há de se medir
o tom da cachaça

A primeira dose
abre a mente
assim, de mansinho,
num crescente

A segunda dose
já alegra a alma
que já pensa numa terceira
com alegria e calma

A terceira traz bate-papo
com a mesa do lado
‘valeu gente fina,
falou ta falado!’

A quarta é a dos abraços
do riso alto, da alegria
que venha mais uma!
Coisa boa a euforia!

A quinta é dos infernos!
Êta que tá boa!
Fala bastante
conversa à toa

A sexta já vem um pouco azeda
té parece discussão
todo mundo fala
ninguém tem razão

A sétima tem gosto de sangue
de tapa, safanão
de gente valente
cabe uma oitava, como não?

A oitava...
A oitava...

Tem a forma de fio de faca
que bêbado tem cu na estaca!
Turma do deixa disso...
‘qualé a tua babaca!’

‘Quer toma mais uma?
Procura outro bar!’
Avisa o bodegueiro
com o dedo no ar

Eu volto
e vou matar todo mundo!
que eu sou trabalhador
não sou vagabundo!

E caminha na rua
de pé trocado
e pensa vingança
‘foi dado o recado!’

Minha faca, minha faca!
Minha faca, minha faca!
Cai duro em um canto
o resto é ressaca...

Roberto Axe

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O QUASE MORTO E O QUASE VIVO

O homem quase-morto recebeu seu amigo quase-vivo.

O homem quase-morto estava quase morto.

Estava em uma cama de hospital, nas últimas.

O homem quase-vivo estava aflito:

– Aquela mulher acabou comigo! – disse com um pouco de raiva – Desgraçada! Se ela pensa que darei o braço a torcer está muito enganada! Caramba o que eu faço? Sou louco por ela! me ajude, diga alguma coisa! Você nunca me deu um conselho na vida! Um, que seja... que amigo você é, hein? Só me lembro daquela baboseira que me disse certa vez de que não deveríamos ser carregados no colo quando andamos em nossa própria estrada, sei lá, ou coisa parecida.... Você sempre foi meio enigmático...

O homem quase-morto sorriu.

- Bem, estou para iniciar um novo negócio, o que você acha? Sim, eu sei, são tempos difíceis coisa e tal... mas quem não arrisca... né? Sei lá... o que você acha? Diz alguma coisa, porra! Qualquer coisa! Nem que seja da minha camisa, paguei duzentos paus nela! Bonita? Diz aí! Bonita?

O homem quase-morto sorriu.

- Você está me irritando, meu! Esse silêncio está me irritando... Diga-me o que achou do meu bronzeado? – o homem quase-vivo abriu a alguns botões de sua camisa nova de duzentos paus deixando o peito à mostra – Veja, que bronzeado, hein? É que estive na praia no fim de semana, cara, que mulherada! Pensei em você... sim, eu penso em você, seu ingrato! Gostaria que estivesse comigo, ah... que mar! Azul, azul, você precisava ver. Sim, o lugar ideal para me divertir e esquecer aquela cadela! Você não acha? O que me diz?

O homem quase-morto sorriu, depois riu e depois tossiu.

O homem quase-vivo foi até a janela e olhando para fora comentou:

- Ah, que dia! A noite vai ser boa! Vou encher os cornos hoje à noite, tomar todas, eu mereço né compadre, é ou não é? Mereço ou não mereço? Claro que mereço, porra! Com tudo isso que ando passando por causa daquela vagabunda! Aquela vagabunda! Mas até que é gostosa, né? Hehehehe... eu sou foda, meu! Você sabe, não preciso repetir. Olha, enchi o saco! Você aí, não me diz nada, não me dá um bom conselho, daqueles que só os bons amigos dão... nem isso você faz! Sinto que estou é perdendo meu tempo aqui, fui!

O homem quase-vivo saiu do quarto e o homem quase-morto ficou por muito, muito tempo fitando a parede branca.

Os minutos foram passando, depois as horas...

O homem-quase-morto, quieto, imóvel, enfim morreu.

Mais vivo do que nunca...