Madame Clitóris deu uma festa.
E que festa!
A coisa se deu na eminente
residência de Mme Clitóris. Muitos convidados importantes. A nata cultural e
artística da cidade. Para vocês terem uma idéia, até uma pequena orquestra foi
improvisada no grande salão da mansão. A orquestra contava com Dr. Ataúde
tocando episódio, Sr. Potreiro tocando baluarte, Dona Colméia tocando faxina,
Dona Lisura tocando lágrima e Seu Alhures dedilhando a carreata. Coisa linda de se ver e escutar. Foi uma
pena Dona Virilha ter chegado atrasada, mas todos entendiam, afinal, fizera uma
operação para retirada de um colostro no ombro esquerdo e aproveitara para
remover um pirralho que há muito havia surgido em seu nariz. Tudo correu bem.
Seu respeitável marido Sr. Gangrena também se submetera a uma intervenção, nada
de mais, foi só para corrigir um desvio de pinguela nas costas. Outro convidado
que passou por um susto foi o Senhor Curral, que descobriu um alcalóide no
braço, mas graças a um tratamento à base de apnéia e injeções de musselina,
conseguiu curar-se. Bem, mas falemos um pouco do que foi servido aos convivas.
Madame Clitóris caprichou no jantar, vejamos: de entrada uma sopa de baganas
belgas com chocalhos e afagos africanos. Como prato principal, uma bela
compostela com grisalhos ao molho de candeeiro. Como sobremesa foram servidos
faniquitos com larápios silvestres. Para beber, um caprino de boa safra. Uma
delícia, todos concordaram. Depois do jantar os convidados reuniram-se no salão
para uma boa conversa. Alguns lembraram que aquele casarão já fora assombrado
por calúnias penadas e alguns juraram já tê-las visto... “Ao chegar aqui, juro
que vi uma calúnia lá no jardim, juro, juro...” afirmou Dr. Cemitério, mas
ninguém o levou muito a sério. Lá fora as crianças brincavam na corriola,
fazendo grande balbúrdia. No salão os presentes conversavam animados quando Sr.
Medonho sentiu-se mal e teve de ser amparado e acomodado em um confortável
poltrão que ficava em um canto da sala. Recomposto, Sr. Medonho admitiu que
sofria de um insulto no coração e de vez em quando tossia até botar as bazófias
pra fora. Nada que não pudesse
controlar com pílulas de tamborim e algumas aplicações de melindrosa. Dr.
Pancrácio, médico, ali presente, recomendou-lhe algumas pílulas de urinol, mas
sempre em jejum. Depois do susto todos voltaram a conversar os mais variados
assuntos. Dona Gengiva vangloriava-se de que seu filho iria formar-se ao final
do ano em flatulência gerencial, e que sempre fora talhado para isso. Dona Miséria estava aliviada, dizia, pois a
filha havia finalmente curado uma verborréia que lhe surgira há alguns anos na
língua. Sr Asneira comentava uma viagem que fez ao sul de Framboesa, afirmando
não haver praias mais lindas, de águas límpidas, através das quais se pode ver
os fetiches e os frouxos nadando tranqüilamente. Disse que aproveitou também
sua estadia na Framboesa para conhecer as Ilhas Silábicas e suas ruínas
históricas, pois lá viveram os carrancudos, povo guerreiro e de poucos amigos.
Todos bebericavam chilique.
Dona Faringe, que adorava salada
de ceroulas, ponderou que mesmo que a anfitriã não tenha servido a salada de
seu gosto, pelo menos poderia disponibilizar um tantinho de molho de fuleiros,
que ela sabia, Mme Clitóris havia importado da Crisálida. É claro que esses
comentários eram feitos à boca miúda, pois ninguém ousava afrontar a dona da
casa, que aliás, surpreendeu a todos ao servir, mais tarde, uma grande falácia
doce com calda de asneiras. Foi uma grande comilança, Mme Clitóris gostava
assim. Foi só lá pelas altas da
madrugada que os convidados, enfim, partiram, quase em bando... “Parece até um
bando de compotas” comentou Mme Clitóris com uma criada, lembrando daqueles
simpáticos animaizinhos que habitam o sul do Carnegão. Enfim a sós, Mme
suspirou cansada, mas já imaginava o que serviria em alguma festinha vindoura
“Talvez um amálgama com saborosos garranchos, quem sabe...” , foi para o quarto
e desabou, exausta, em sua cama, nem removeu a traquinagem de seu rosto. Agora
só queria dormir... dormir... dormir... e que sabe, sonhar com o que mais
gostava... um imenso e intenso vergalhão... daqueles, lá das Ilhas
Anarquias...