Um amigo roteirista me aconselhou a abolir o prefácio em meus
livros. Alegou que eu acabo entregando de bandeja a história, tirando do leitor
o prazer de ir desvendando o enredo no decorrer da leitura. Ponderei que não
havia como fazer isso, pois ao contrário de um roteiro para cinema o prefácio
está para o livro com um dedo está para nossa mão, afinal, uma obra literária
precisa ser ‘vestida’ por um certo regramento. Mas isso me botou a pensar: será
mesmo que esmiúço demais o enredo em meus prefácios? Na verdade não há
escapatória, precisamos dizer do que o livro trata, porque ao escrevermos,
sempre queremos dizer alguma coisa. Quem já leu alguns de meus romances sabe
muito bem aonde pretendo ir com minhas histórias, mas quem nunca os leu, então,
precisa saber aonde eu quero chegar. Sendo assim... vamos lá. Em DEVORANDO
EDSON abordo o tema da esperteza e da credulidade, e a dificuldade em contrapor
aquele que se diz abençoado por seja lá o que for. Este é um assunto que não
exige provas, tudo fica na palavra. Dá para crer cegamente em alguém se diz
imbuído de uma nova moralidade por ter sido ‘tocado’
por algo divino ou alguma divindade? O assunto não é novo, mas criei uma
abordagem diferente. Espero que funcione. Mais uma vez alerto de que meus
romances têm condimentos de realidade-fantástica, e digo isto para que me seja
concedida alguma liberdade e licença poética. Não abro mão, como sempre, de
abordar a relatividade desse tal ‘bem’
e esse tal ‘mal’ [o bom e o ruim, o santo e o demoníaco, o que pode e o que não pode
etc. etc., enfim, tudo aquilo que é posto como pronto e intocável, e que retira
do ser humano a dignidade da livre escolha. Ora, que cada um decida o que é bom
e o que é ruim para si próprio!] assuntos tão surrados, mas também sempre
tão incrustados em nossas mentes. Os confrontos que surgirão entre os que
acreditam e os que não acreditam no avatar que traz para todos o inusitado
culto a Edson se darão, como não poderia deixar de ser, em um ambiente
subjetivo, onde os prós e os contras usarão das armas, personagens e os cenários
de que dispõem. Cabe somente ao leitor descobrir ‘o que vale a pena’ nesse enfrentamento do que existe de um lado e o que se pretende
existente de outro. Se há uma ’santa’
e crédula moralidade de rebanho, obviamente haverá a ‘demoníaca’ moralidade solitária do indivíduo apartado, e é aí que
o bicho pega! – não é um trocadilho diabólico – O cenário está posto, que se
abram as cortinas! Prefiro não dizer mais nada, que os caros leitores me
permitam que este seja um prefácio curto e sem outras informações sobre esta
obra; uma singela homenagem deste autor ao seu amigo roteirista e cineasta.
Roberto Axe
Porto Alegre, 08 de julho de 2016.
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