quinta-feira, 11 de março de 2010

A PORTA

Odiava portas. Tudo que 'fecha e têm dois lados' lhe preocupava, mais que isto, lhe tirava o sono. O que havia por detrás da porta? Quem poderia saber! Dormia de porta aberta, pois se a fechasse, imaginava o que estaria se passando do outro lado, e vice-versa; também não podia ver quartos fechados sem que sua imaginação se pusesse a trabalhar freneticamente. Afinal, o que há do outro lado da porta? Até que ponto, o que não via podia assustá-lo tanto?Quando deitava demorava a dormir, pois mesmo com a porta do quarto aberta, como sempre, perdia o sono por conta do exíguo espaço entre a porta e a parede, sim, mesmo aquela pequena sombra que restava deveria portar seus mistérios. Não gostava de mistério.Gostava das coisas às claras, bem iluminadas pelo Sol; coisas que podia ver. - por que inventaram as portas? o que tanto precisam esconder? Que intimidades bizarras precisam ser 'varridas' para trás de uma porta? - certa vez experimentou um alívio filosófico: de tanto pensar no assunto descobriu que pelo menos sabia o que se encontrava atrás de um lado da porta: ele mesmo!já era um começo. Mas quando concluiu que metade do mistério estava resolvido, algo lhe ocorreu; havia sobrado 50% do problema!As coisas pioraram. Já não conseguia dormir. Numa de suas vigílias teve um estalo!O Problema não é o 'outro lado' e sim, 'a porta'! Levantou, estourou champanha, dançou de felicidade! Finalmente a partir de agora haveria de dormir! Não perdeu tempo: retirou as portas de sua casa e teve prazer maior quando o fez em seu quarto. Embriagado pela alegria, naquela noite sem portas, dormiu como um anjo... ou talvez, como um demônio...

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